Eletrocardiograma para o médico do trabalho - Telemedicina Mônica

Eletrocardiograma para o médico do trabalho



Com frequência o médico do trabalho se depara com a seguinte situação: eletrocardiograma alterado. Libero ou não para a atividade laboral?

O objetivo deste blog é orientar médicos e estabelecimentos de saúde sobre a eficácia do eletrocardiograma de repouso como exame de rastreamento de cardiopatias, pensando nos desfechos: prevenção de acidentes, morte súbita e síncope em população adulta e assintomática no ambiente de trabalho.
No meio ocupacional, incluindo atletas e militares, uma das intervenções utilizadas para redução de risco é a inaptidão ao trabalho.

Não há evidências na literatura científica sobre a eficácia do eletrocardiograma de repouso como exame de rastreamento para cardiopatia em população adulta e assintomática.
Não existe uma receita de bolo e bom senso é fundamental.

Não existe uma regra para a realização de eletrocardiograma de repouso para os trabalhos em altura por não haver evidência científica. O ECG de repouso também é utilizado em outras categorias com atividades críticas de trabalho como mergulho profissional, aviação e militares. Na aviação civil brasileira, os critérios institucionais de avaliação cardiológica e de aptidão são definidos pelo Regulamento Brasileiro de Aviação Civil no 672. A Norma Regulamentadora 15, anexo A, considera o ECG como parte obrigatória da avaliação cardiovascular para aptidão de trabalhadores no mergulho profissional.

Trabalhadores acima de 40 anos e em especial aqueles sob atividade de risco (trabalho em altura, espaço confinado, equipamentos móveis pesados) para si ou para terceiros devem ser submetidos a realização do mesmo. O achado de uma pre-excitação ventricular (intervalo PR curto, onda delta e alteração da repolarização ventricular) em um trabalhador assintomático pode ser um impeditivo de trabalho em profissão de risco sendo prudente que o médico do trabalho solicite uma avaliação mais especializada do cardiologista para análise caso a caso.

Em geral eletrocardiograma alterado em trabalhador de área administrativa não o impede de trabalhar podendo o médico do trabalho assinar o ASO (atestado de saúde ocupacional) como apto ao trabalho. A depender do poder aquisitivo do trabalhador o encontro de um eletrocardiograma alterado poderia ser um indicador de encaminhamento ao cardiologista com o objetivo de se promover a saúde dele uma vez que esta também é uma tarefa da medicina do trabalho (prevenção).

Sempre que surgir a duvida devo liberar para a atividade laboral um trabalhador com eletrocardiograma alterado há que se lembrar sempre do tipo de atividade de risco que o mesmo fará: trabalho em altura, espaço confinado, trabalho com máquinas pesadas? Na dúvida não libere e peça uma avaliação cardiológica acreditando ser mais seguro nesta população. Especialmente se as alterações do eletrocardiograma forem wollf parkinson white, fibrilação atrial, flutter atrial, taquicardia atrial, zonas inativas no eletrocardiograma. Há que se lembrar que uma anamnese bem feita e um exame fisico pormenorizado em algumas vezes por si só já limitam determinadas atividades pelo encontro de sopro cardíaco no coração ou nível de pressão arterial muito elevada.

Comumente você médico do trabalho se depara com um laudo de eletrocardiograma de repouso que tem como conclusão alteração inespecifica da repolarização ventricular. O que fazer? Devo liberar para a atividade laboral? De um modo geral sim, pois este achado não impede a prática laboral. Mas lembre-se de perguntar sobre comorbidades que talvez pudessem ser um impeditivo: diabete mellitus, hipertensão arterial, história pregressa de infarto do miocárdio e correlacione estas comorbidades ao tipo de atividade laboral que será exercida.

Considera-se como trabalho em altura toda atividade executada acima de 2,00 m (dois metros) do nível inferior, onde haja risco de queda. Neste caso por exemplo , mais do que um eletrocardiograma normal há que se lembrar de situações clínicas impeditivas de executar este tipo de trabalho.

São situações clinicas impeditivas do trabalho em altura: os portadores de doenças cronificadas, embora estabilizadas (0besos, diabéticos,  artralgicos), portadores de  doenças cardíacas arritmogênicas , sequelados, reabilitados, consumidores habituais de alcool e drogas, portadores de labirintite crônica.

Portanto , a eficácia do ECG de repouso seguido de inaptidão para prevenção de acidentes e eventos cardiovasculares continua incerta e controversa na literatura, sendo necessários mais estudos que avaliem a qualidade de implementação, os benefícios, malefícios e custo-efetividade desse modelo de rastreamento.


Autora: Dra Mônica Lima- cardiologista RQE 5996 6


bibliografia:
https://www.anamt.org.br/portal/wp-content/uploads/2018/05/rastreamento_por_eletrocardiograma.pdf